Pedro começa sua carta louvando a Deus por tudo o que ele fez por nós. Mas o que ele fez por nós, e como devemos reagir diante disso?
Pedro escreve aos “forasteiros da Diáspora” (1Pedro 1.1). Com isso ele chama a atenção para nossa posição neste mundo. Se fôssemos apenas criaturas destituídas de direitos, de nacionalidade e indefesas, isso seria um cenário triste. Contudo, Pedro deseja nos mostrar as riquezas imensuráveis que temos em Cristo. Esse tesouro é nossa armadura nas tentações e aflições que vivenciamos. O conhecimento dessa riqueza nos dá forças para resistir e vencer.
Como cristãos professos, não somos essencialmente do mundo, embora vivamos nele e lidemos com pessoas incrédulas de forma amorosa, independentemente de sua situação e orientação. Mas, por outro lado, possuímos um tesouro muito maior. Fomos escolhidos de acordo com a presciência de Deus. Ele nos procurou e nos encontrou. Ele nos destinou e nos separou por meio de nossa salvação, como o evangelista Wilhelm Busch (1897-1966) disse em um de seus últimos sermões:
“Deus me escolheu antes da fundação do mundo e me atraiu para seu Filho, para que o Salvador morresse por mim e para que eu o recebesse pelo Espírito Santo. Ele me comprou, eu não pude fazer nada sobre isso. Foi-me dado como presente.”[1]
Isso é o que significa aqui a “santificação do Espírito” (1Pedro 1.2). E a santificação pelo Espírito é mostrada na obediência do homem salvo a Deus. Somos salvos para servi-lo.
Neste contexto, Pedro também fala da “aspersão do sangue de Jesus Cristo”. A aspersão do sangue evoca a antiga aliança com o ministério dos sacerdotes no tabernáculo. George Waught aponta que o derramamento de sangue foi o sacrifício por nossos pecados. A aspersão do sangue é a aplicação do preço e a eficácia do sacrifício. Também encontramos a aspersão de sangue em Êxodo 24, quando Moisés selou a antiga aliança com Israel.[2]
É somente por meio de sua obra consumada, não por meio de nossas conquistas ou devoção, que podemos ser obedientes a ele.
Ser aspergido com o sangue de Cristo significa que o sacrifício dele é válido por nós de uma vez por todas. É somente por meio de sua obra consumada, não por meio de nossas conquistas ou devoção, que podemos ser obedientes a ele. Através disso somos considerados santos e perfeitos diante de Deus. Entre os não salvos somos forasteiros, aqueles que não pertencem, que não podem ser “integrados” no estilo de vida deles. É por isso que somos perseguidos e hostilizados. Mas o Deus vivo nos separou para si mesmo, nos comprou com o maior e melhor preço que poderia ser pago: o precioso sangue de seu Filho.
Com esse privilégio singular em mente, Pedro coloca o estado de alienação em segundo plano e começa a louvar as riquezas que nos são dadas em Cristo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pedro 1.3). As riquezas espirituais que Pedro menciona aqui são inteiramente devidas à obra de Deus, sem o menor envolvimento de nossa parte. Isso nos mostra como podemos provar nosso valor na tentação e na tribulação – não é buscando espiritualidade e firmeza dentro de nós mesmos, mas reivindicando a obra de nosso Senhor e as riquezas que ele nos concedeu.
Como podemos provar nosso valor na tentação e na tribulação? Não é buscando espiritualidade e firmeza dentro de nós mesmos, mas reivindicando a obra de nosso Senhor e as riquezas que ele nos concedeu.
Deus Pai, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Não merecemos ou trabalhamos pela nova vida, trata-se de um presente só dele. E ele nos deu essa nova vida unicamente por causa de sua grande misericórdia. Isso exclui qualquer mérito de nossa parte.
No momento do aprisionamento de Jesus, quando Pedro ainda estava convencido de sua própria determinação e firmeza, o resultado foi catastrófico. Porém, por meio de suas três negações, ele percebeu que é somente pela misericórdia de nosso Senhor que recebemos uma nova vida. Deus não depende de nós, nós somos dependentes dele! É por isso que Pedro não podia fazer nada além de lançar toda a sua vida sobre a única rocha inabalável, chamada Cristo.
É a grande misericórdia de Jesus, a nova vida que ele nos concede e a viva esperança de sua ressurreição que nos fortalecem, apesar de todas as provações e ameaças de decepção. Portanto, não fiquemos ocupados com lamentações e reclamações, mas, como Pedro, olhemos com gratidão para o que nos é dado em Cristo e aprendamos a reivindicar e viver disso.
Notas
[1] Wilhelm Busch, Gottes Auserwählte (Bad Liebenzell, Alemanha: Verlag der Liebenzeller Mission 1967), p. 39.
[2] George Waught, Was die Bibel lehrt, Bd 15 – 1. u. 2. Petrusbrief (Dillenburg, Alemanha: CV-Dillenburg, 1991), p. 51.
Johannes Pflaum nasceu na Alemanha, em 1964, é casado, pai de cinco filhos e reside na Suíça, onde integra a diretoria da Sociedade Bíblica Suíça. Serve como Ancião na Comunidade Cristã de Sennwald. Desde 2000 atua como conferencista e docente na área do ensino bíblico, tanto no país como no exterior.
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