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terça-feira, 4 de março de 2025

KEMP MISSÕES I Quando Trocamos o Passageiro pelo Eterno

Um dos perigos que corremos é o de trocar o essencial por aquilo que é temporário. Jesus falou disso em suas parábolas. Como aplicar seus ensinamentos às nossas vidas?

A história humana é repleta de casos em que uma pessoa quer os benefícios de uma relação, mas não a relação em si. Há casos históricos e literários de pessoas que se aproveitam de outras, “sugando” os benefícios, mas desprezando a pessoa em si. Essas histórias, reais e fantasiosas, são tão comuns pois refletem algo do coração humano. Elas nos parecem verossímeis, apesar de nos gerar repulsa. Na parábola chamada do filho pródigo (Lucas 15), ambos os filhos, tanto o que tomou sua herança e foi embora, como o que permaneceu, queriam os benefícios da herança, mas não desejavam uma relação com o pai. O filho mais novo caiu em si, o mais velho, até o final da parábola, ainda mantinha uma relação de escravo injustiçado com seu pai.

No capítulo 20 do evangelho segundo Lucas, Jesus conta a parábola dos maus lavradores (Lucas 20.9-19). A história é bem conhecida. Certo proprietário plantou uma vinha e contratou lavradores que cuidariam da vinha e lhe pagariam uma porcentagem dos resultados. Como proprietário, ele tinha todo o direito de receber parte dos resultados. A vinha era sua, era ele quem possuía a terra e fora ele que plantara a vinha. Contratos assim eram comuns e plenamente respeitados naquela época.

No entanto, esses lavradores, ao perceberem que o proprietário se ausentara, decidiram se aproveitar da situação e não lhe dar o que lhe era devido. Assim, conforme o senhor enviava pessoas para receber o que era seu por direito, os lavradores não só se recusavam a pagar, mas agrediam os cobradores e os expulsavam. Por fim, o senhor envia seu próprio filho, crendo que a este os lavradores respeitariam. A história atinge seu clímax quando esses lavradores decidem matar o herdeiro e ficar com a herança para si, cortando todos os vínculos com o proprietário. Jesus termina a parábola alertando sobre o juízo que este proprietário exercerá. No versículo 16 lemos: “[O senhor] virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros”.

Os lavradores, ao perceberem que o proprietário se ausentara, decidiram se aproveitar da situação e não lhe dar o que lhe era devido.

A reação dos ouvintes revela que eles entenderam muito bem o significado daquela história. Inclusive no versículo 19 lemos que “perceberam que era contra eles que havia contado aquela parábola”. Há alguns elementos que deixavam isso muito claro. Primeiramente, a imagem da vinha era popularmente associada a Israel. Verifique, por exemplo, a passagem de Isaías 5.1-7 e Ezequiel 18. O crime dos lavradores era evidente para os padrões da época. Eles mereciam realmente a morte, pois haviam rompido o contrato e, ainda pior, matado o herdeiro. Em resumo, a história falava de uma vinha que havia sido confiada a um grupo que, em vez de dar ao senhor o que lhe era devido, decidiu usufruir das bençãos, sem honrar o doador das bençãos.

A reação dos ouvintes foi natural: “Que isso nunca aconteça!”. Havia ficado evidente o alerta de que eles haviam tomado posse das bençãos como povo de Deus, tinham sido protegidos pelo Senhor e recebido sua Palavra para que fossem benção entre as nações, mas, em vez de fazerem isso, tinham se recusado a dar honras ao Senhor de coração e, profeticamente, Jesus afirmava que eles matariam o Filho. Mesmo ouvindo esse contundente alerta, eles se negam a se arrepender. No versículo 19 lemos: “Os mestres da lei e os chefes dos sacerdotes procuravam um meio de prendê-lo imediatamente…”.

Antes de sermos excessivamente duros com os judeus e seus líderes, creio que devemos olhar para nossas próprias vidas. Quantas vezes rogamos e pedimos algo para o Senhor – pode ser um livramento, uma benção, uma cura ou a restauração de um relacionamento. Uma vez recebido o que havíamos pedido, somos breves em agradecer e, pouco tempo depois, nos encontramos distantes e frios quanto à nossa relação com o Senhor. Creio que está em nosso coração a tendência de nos desviarmos do que é essencial, eterno e importante, para o trivial e passageiro. Lembro-me de ter lido as palavras de um psiquiatra judeu, sobrevivente do Holocausto, Victor Frankl, que afirmou: “Quando a pessoa não consegue encontrar um profundo senso de significado, ela se distrai com os prazeres”.

Uma vez recebido o que havíamos pedido, somos breves em agradecer e, pouco tempo depois, nos encontramos distantes e frios quanto à nossa relação com o Senhor.

Diante desse quadro, que percebo também em minha vida, me lembro das palavras de Paulo em Filipenses 3.7-9:

“Contudo, o que para mim era lucro passei a considerar como perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, o meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem por meio da fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé.”

Oro por mim, para que meu coração, que às vezes é volúvel, se apegue mais e mais ao que é importante e eterno. Que eu considere tudo que não seja Cristo como perda, e todas suas dádivas como expressões do seu amor. Não quero que os prazeres que vêm das dádivas de Deus me afastem do seu amor eterno.

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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