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sábado, 22 de agosto de 2009

Tráfico de crianças – 92% dos casos são para fins sexuais


Rota de tráfico: meninas convidadas para trabalhar em casas de família são desviadas para prostituição.

O tráfico de crianças e adolescentes consiste no comércio de seres humanos para serem explorados sexualmente ou de outras formas de trabalho forçado. De acordo com estimativas das Nações Unidas, 92% dos casos de tráfico são para fins de exploração sexual. Em 2002, segundo os dados, pelo menos 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos foram forçados a manter relações sexuais ou submetidos a outros tipos de agressão íntima.A lei que tipifica este tráfico como crime foi criada no Brasil em 2005, com a alteração do artigo 231º e inclusão do artigo 231-A do Código Penal. “A lei brasileira se adaptou ao Protocolo de Palermo, documento das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional, em que o tráfico de pessoas recebeu atenção especial”, afirmou a advogada Leila Paiva.Na visão da advogada, as pessoas precisam conhecer a lei brasileira e passar a denunciar os casos de tráfico através do disque 100. “Quando falamos de tráfico sexual, estamos falando de consentimento, mesmo aceitando o convite as pessoas são vítimas”, esclarece Leila Paiva. Ela também é diretora nacional do Programa de Assistência à Criança e Adolescentes Vítimas de Tráfico para fins de Exploração Sexual da Partners of The Americas.A rota de tráfico no Norte e Nordeste revela que meninas são convidadas para trabalhar em casas de família e vão para prostituição. “Isso é crime”, alerta Leila Paiva. Ela, juntamente com o editor de Conteúdos do Jornal A Tarde, da Bahia, Ricardo Mendes, ministraram palestra sobre o tema para os jornalistas do Sistema Verdes Mares, dentro da estratégia de divulgação da campanha nacional contra o tráfico de crianças que a Patners lançará no fim deste mês em todo o País.O evento que aconteceu simultaneamente em seis capitais brasileiras contou também com o apoio da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e da Agência Catavento Rede ANDI Brasil.Carlos Ely, da ANDI nacional, falou do trabalho de monitoramento da imprensa feito pela entidade desde 2004 sobre os direitos da infância e do adolescente em 54 jornais, 10 revistas e quatro telejornais brasileiros. Constatou-se que o tema “violência”, principalmente a sexual, ficou em segundo, só perdendo para educação. “A cobertura é muito factual, com pouca contextualização”, revelou Ely.O jornalista Ricardo Mendes aproveitou o encontro para falar da sua experiência jornalística sobre o tráfico de crianças e adolescentes. Ele venceu duas edições do Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística. Em 2003, produziu uma série de reportagens sobre a fragilidade da rede de proteção à criança. No ano seguinte, abordou as crianças exploradas sexualmente. Já em 2005, participou de projeto sobre leilão de meninas virgens.SP é destino de tráfico de adolescentes para exploração sexualA cidade de São Paulo é um dos principais destinos do tráfico de adolescentes e crianças para exploração sexual.A afirmação é do secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro. Em muitos casos, as meninas são atraídas de outros estados com a oferta de empregos falsos ou de carreira de modelo.- A situação na capital é grave. A região Sudeste, principalmente a ponte Rio-São Paulo, é um dos principais destinos do tráfico de crianças e adolescentes para exploração sexual. Nós precisamos acabar com isso, é uma responsabilidade de toda a sociedade – diz Pesaro.Iludidas com propostas de emprego e de uma vida melhor na capital paulista, Yasmin, de 16 anos, e Bruna, de 13 — os nomes são fictícios —, acabaram vítimas de quadrilhas que traficam crianças e adolescentes para exploração sexual.Somente no ano passado, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) atendeu 1.348 casos de violência sexual contra meninas e meninos com idades entre 7 e 14 anos. Hoje, 340 menores estão em atendimento na rede municipal.Bruna morava com a família em São Luís, no Maranhão, quando recebeu o convite de uma antiga amiga da mãe para trabalhar como doméstica em uma casa de família. Ao chegar a São Paulo, em setembro do ano passado, foi abandonada pela mulher na casa de um homem e tornou-se escrava sexual dele Um dia depois de se mudar, foi espancada e estuprada.- Ele tirou a minha virgindade, o que eu tinha de mais importante. Quase todos os dias, eu era forçada a ter relações com ele e, ainda, precisava implorar para ter roupa, pasta de dente, creme para o cabelo – diz Bruna, que voltará para casa em breve.A menina e a família dela eram constantemente ameaçadas de morte pelo explorador.- Eu não quero voltar para São Paulo nunca mais. Nem a passeio, nem quando eu for maior de idade – fala, com tristeza.A jovem Yasmin deixou uma filha de um ano e meio em Alagoas. Desembarcou em São Paulo, em fevereiro, para realizar o sonho de trabalhar como modelo. O pesadelo, porém, começou três dias depois da chegada: o cafetão a espancou e estuprou num quarto de hotel barato.- Tenho que experimentar minha mercadoria para ver se é boa – foram as palavras do explorador para Yasmin.De segunda a sábado, das 9h às 15h e das 15h30 à meia-noite, Yasmin trabalhava como prostituta na região Leste, cobrando R$ 30 por programa. O cafetão ficava com todo o dinheiro. Descanso, só aos domingos.O cafetão obrigava as adolescentes a trabalharem menstruadas.- Ele mandava a gente colocar um algodão. Eu tive uma infecção, sentia muita dor à noite, mas não tinha jeito. Se a gente não fizesse o que ele mandava, apanhava. Eu sinto muita raiva disso tudo.”Como ela, outras sete garotas eram exploradas pelo mesmo homem, que foi preso há cerca de um mês. O explorador de Bruna também foi detido. Hoje, elas recebem acompanhamento psicológico em uma casa de apoio da Prefeitura.América Latina têm 100 mil vítimas do tráfico de pessoasA Organização Internacional para as Migrações (OIM) lança neste dia 17 de maio, às 10 horas, na sede da Fundação Cultural, a Campanha de Prevenção ao Tráfico de Pessoas na Tríplice Fronteira, entre Argentina, Brasil e Paraguai. Na ocasião serão apresentadas as peças publicitárias que serão veiculadas em jornais, rádios e emissoras de televisão de Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazú, já a partir do dia 18 de maio.O tráfico de pessoas gera o ingresso anual de US$ 32 milhões em todo o mundo. Oitenta e cinco por cento desse dinheiro provem da exploração sexual, que apenas na América Latina e Caribe registrou 100.000 vítimas em 2006, segundo uma investigação recente da OIT.O tráfico de pessoas é uma forma moderna de escravidão. Ele consiste em captar, transportar, abrigar e explorar pessoas com fins de exploração sexual, laboral (trabalho escravo) e para extração e tráfico de órgãos, em benefício de uma rede criminosa. A campanha põe em evidência que qualquer pessoa pode ser vítima do tráfico de pessoas, em especial mulheres jovens, crianças e adolescentes de comunidades carentes, população mais exposta a este perigo. Pessoas que ingressam legalmente em um país também podem cair em redes criminais de tráfico de pessoas.Fonte: sapo.pt , jornaldoestado.com.br , Diário do Nordeste , O Globo

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