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sábado, 21 de março de 2020

A Igreja somos nós

O episódio da transfiguração de Cristo, relatado em Mateus 17:1-5, fala-nos de forma eloquente sobre uma verdade espiritual simples: não importa onde estamos, importa apenas que estejamos em comunhão com Cristo.
Devido à actual situação pandémica do Covid-19 alguns países declararam estado de emergência e grande parte das igrejas cessaram os seus actos de culto, a fim de quebrar as cadeias de transmissão do vírus, única forma de vencer esta pandemia que está a assolar o mundo. Muitas dessas igrejas mantém o apoio aos fiéis de diversas formas, desde transmissão de cultos pela internet, comunicação e envio de materiais através das suas redes sociais assim como prestação de apoios pontuais aos que mais necessitam deles.
Todavia outros líderes persistem em manter os ajuntamentos religiosos em oposição às recomendações das autoridades de Saúde, pelo que a situação tem originado muita polémica, até porque há notícia de infecção passada em cultos de igrejas cristãs pelo menos na Europa e na Ásia.
Mas o texto bíblico em questão mostra-nos claramente que a comunhão com Deus não passa necessariamente pelo local físico em que nos encontramos mas sim pela nossa cartografia espiritual, isto é, pelo facto de estarmos ou não em comunhão pessoal com Jesus.
Pedro, Tiago e João, além do próprio Senhor, frequentavam o Templo de Jerusalém com regularidade, como se pode atestar pelo relato dos evangelistas ou do livro de Actos. Porém, esta experiência única mostrou-lhes que o mais importante é mesmo a comunhão com Cristo.
Vejamos então o que aconteceu com Pedro, Tiago e João: 
Não estavam no Templo, mas deixaram-se conduzir por Jesus
De facto Pedro, Tiago e João estavam longe do Templo de Jerusalém, mas nem por isso deixaram de ser guiados pelo Mestre: “Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte” (v 1). Dentro ou fora da casa do Senhor podemos e devemos ser guiados por Ele em todas as coisas.
Não estavam no Templo, mas ficaram na presença de Jesus
O simples facto de os discípulos não se encontrarem no centro de adoração não obstou a que permanecessem na presença de Jesus. Se apenas pudéssemos estar na presença do Senhor quando estamos num templo, seríamos uns tristes e estaríamos muito longe do que Ele mesmo nos ensinou e mandou fazer.
Não estavam no Templo, mas viram a glória do Senhor
Os três companheiros não estavam no Templo mas puderam presenciar a glória do Senhor. Jesus transfigurou-se diante deles no cimo daquele monte: “E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz” (v 2).
Nunca eles tinham tido uma experiência tão impactante dentro dos muros do Templo, e talvez nunca mais na vida a tenham tido, com excepção, eventualmente, da visão do Cristo glorificado que João Evangelista teve mais tarde na ilha de Patmos.
Não estavam no Templo, mas tinham a Lei e os Profetas com eles
Moisés representa aqui a Lei e Elias os profetas, isto é, o fundamental da Tanak, a bíblia judaica ou as escrituras veterotestamentárias: “E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele” (v 3).
A fidelidade à Palavra passa mais pelo seu conhecimento e a nossa obediência à mesma do que pela presença num culto.
Não estavam no Templo, mas não queriam sair dali
Apesar de estarem longe do Templo ou de qualquer sinagoga, Pedro, Tiago e João sentiam-se tão bem que não queriam sair daquele lugar.
Queriam prolongar o momento e dilatar a experiência: “E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias” (v 4).
Não estavam no Templo, mas Deus falou com eles
Finalmente, mesmo no meio do campo, no cume dum monte, Deus falou com os discípulos: “E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o” (v 5). Deus não fala connosco apenas no acto do culto, fala sempre que estivermos dispostos a ouvir a Sua voz, onde quer que nos encontremos.
 De facto, a Igreja somos nós, os fiéis, não o edifício. O compromisso com uma comunidade local de fé, o culto, a comunhão dos santos, o ouvir a pregação e ensino da Palavra de Deus são fundamentais para a nossa vida de fé, mas Deus pode estar onde nós estamos, assim estejamos nós disponíveis para Ele.
Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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