O principal ataque contra o livro de Daniel foi lançado pelo filósofo neoplatônico Porfírio, já por volta do ano 300 d.C. Em seu 12º livro contra os cristãos, ele classificou o livro de Daniel como uma falsificação da época dos macabeus (séc. 2 a.C.), argumentando que simplesmente não existia profecia verdadeira! Em especial no último século, muitos críticos da Bíblia começaram a retomar esse ataque, promovendo um verdadeiro assalto às profecias de Daniel!
Tentou-se apontar uma série de inconsistências históricas nesse livro, o que provaria que o livro de Daniel foi escrito não no sexto, mas no segundo século a.C. Elas demonstrariam que, por viver muito tempo depois, o autor tinha conhecimentos imprecisos a respeito da situação do século 6 a.C.
A confiabilidade histórica de Daniel
Contudo, a forma como o relato de Daniel concorda em detalhes com a história e com os costumes do século 6 a.C. é assombrosa! Os pontos a seguir reforçam isso ainda mais:
- Em Daniel 1.3-4 mencionam-se os critérios para selecionar os prisioneiros que receberiam formação especial: nobreza, inteligência e beleza física. Em harmonia com isso, uma tabuleta de argila babilônica registra as seguintes diretrizes para a escolha de adivinhadores: “... de descendência nobre, perfeitos também em estatura e constituição física”. Pessoas sem o conhecimento necessário para o cargo de “sábio” não eram aceitas.
- Escavações na Babilônia levaram à descoberta de um prédio que, de acordo com as inscrições nele encontradas, servia como escola para presos nobres.
- De acordo com Daniel 1.5, o período de treinamento de Daniel e dos demais prisioneiros escolhidos deveria durar 3 anos. Encontrou-se em textos babilônicos uma passagem afirmando que um músico do templo (que pertencia à classe sacerdotal) precisava “passar por um treinamento de três anos”. Essa concordância é muito interessante!
- Daniel 2.2,27 e 4.7 mencionam diversas classes de sábios. Isso reflete a realidade de que havia uma gama extraordinária de classes sacerdotais na Babilônia (mais de 30).
- Daniel 3 cita a pena de morte na fornalha, algo típico do Império Babilônico. Escavações na Babilônia também revelaram uma imensa fornalha, cuja inscrição deixava claro que ali eram mortos aqueles que se negassem a honrar os deuses babilônicos. É possível que a palavra em Daniel 3 para “fornalha” (attun) tenha sido emprestada do idioma babilônico.
- Em Daniel 6 (à época do Império Persa) menciona-se o lançamento aos leões como pena de morte. De acordo com os nossos conhecimentos atuais, essa era uma condenação típica dos persas!
- A narrativa em primeira pessoa no começo de Daniel 4, por exemplo, coincide com o costume literário das inscrições reais do Oriente Médio.
- Em Daniel 4.30, Nabucodonosor fala da “grande Babilônia que eu construí...”. As inscrições cuneiformes babilônicas confirmam que Nabucodonosor de fato reconstruiu a cidade, que em 680 a.C. havia sido totalmente destruída por Senaqueribe, rei da Assíria, transformando-a em uma das mais gigantescas maravilhas arquitetônicas da Antiguidade. Uma dessas inscrições reproduz a seguinte afirmação de Nabucodonosor: “... fiz uma cidade magnífica, digna de ser admirada [...] transformei a cidade da Babilônia numa fortaleza”.
- É digno de nota que Daniel 5.7,29 mostre Belsazar como mero corregente (“o segundo”). Por isso, ofereceu a Daniel apenas o terceiro lugar mais importante no reino!
- De acordo com Daniel 5, havia também mulheres participando da festa de Belsazar, em contraste com o Império Persa, onde as mulheres permaneciam afastadas (cf. Et 1). A história confirma que a posição da mulher no Império Babilônico era diferente do que entre os persas.
- O banquete mencionado em Daniel 5, pouco antes da conquista de Babel, é confirmado, entre outros, por Heródoto (485-425 a.C.) e por Xenofonte (430-355 a.C.).
- Daniel conservou sua alta posição política depois da queda da Babilônia (Dn 6). A história confirma que Ciro assumiu a equipe administrativa da Babilônia e manteve os atuais servidores nos cargos!
- De acordo com Daniel 2.12-13,46,48, um governante babilônico era absoluto e soberano. Já Daniel 6 mostra que os governantes persas estavam sujeitos à “lei dos medos e dos persas” (Dn 6.8,12,15; cf. Et 1.19; 8.8). Isso corresponde exatamente aos fatos históricos!
Todos os ataques da crítica bíblica ao livro de Daniel falharam! As informações históricas, arqueológicas e linguísticas disponíveis apontam claramente para a legitimidade do livro de Daniel, que, portanto, de acordo com suas próprias indicações, data do século 6 a.C.
Neste contexto, a palavra do apóstolo Paulo em 1Coríntios 1.19-20 encontra uma aplicação correta e marcante: “Pois está escrito: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes’. Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde está o questionador desta era? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?”.
Extraído e adaptado do primeiro capítulo do livro A História Mundial na Visão do Profeta Daniel, lançamento da Chamada.