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segunda-feira, 3 de março de 2025

Qual é o Propósito da Salvação e o Imperativo Bíblico do Amor?

 


Para o cristão, uma questão central é: qual é o propósito da salvação, e para que ela nos prepara?

Muitas pessoas afirmam que a salvação existe apenas para ter seus pecados perdoados e ir para o céu. Porém, a salvação é muito mais que isso. O perdão dos pecados é central para a salvação, mas ele é mais um eixo do que o único alvo.

Um aspecto da salvação é a restauração de uma criação caída. A salvação foi projetada para nos levar de volta ao que Deus nos criou para ser quando nos fez segundo a sua imagem. Em outras palavras, a Grande Comissão existe para nos reconectar com o mandato da criação – o porquê original de termos sido criados. A queda da humanidade e nosso pecado inerente nos separaram da plenitude para a qual fomos criados. A salvação nos reconecta a essa plenitude e ao Deus que nos criou.

A salvação não se trata, portanto, de ganhar um lugar no céu, mas recuperar um relacionamento com uma pessoa e aprender a viver da maneira que a agrada. Assim, consideraremos primeiro o mandato da criação, e então o propósito da salvação. Por fim, consideraremos nossa resposta à salvação pela graça através da fé em Cristo e aonde essa salvação deve nos levar, tanto na vida quando na esfera pública.

O mandato da criação, o triângulo ético e um chamado a amar

Ao refletir sobre o que Deus pede das pessoas que criou à sua imagem, surge uma palavra à qual não prestei atenção como uma ideia teológica séria até ter vinte anos de experiência de ensino. Trata-se da palavra mordomia.

A salvação não se trata, portanto, de ganhar um lugar no céu, mas recuperar um relacionamento com uma pessoa e aprender a viver da maneira que a agrada.

O mandato da criação em Gênesis 1.26-28 é um chamado para dominar sobre a terra. Deus diz a Adão e Eva em Gênesis 1.28: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra!”. O chamado é para administrarmos bem o ambiente onde Deus nos colocou, o que deve ser feito em equipe – homem e mulher são ambos feitos à imagem de Deus – e envolve muitas raças, conforme o decorrer da história da Palavra. Todo ser humano deve contribuir para essa tarefa de administrar bem a terra como parte de seu chamado de vida. Nesse mandato, somos chamados para refletir a imagem de Deus conforme servimos juntos. Em outras palavras, é um chamado central para toda pessoa de qualquer era.

Juntamente com isso está um chamado ético essencial para administrar cuidadosamente nosso relacionamento com Deus e com os outros, o que é visto claramente nos Dez Mandamentos, que consistem em duas tábuas: uma tratando de como me relaciono com Deus, a outra tratando de como posso errar ao maltratar os outros. O que Jesus chama de maior mandamento também tem essa estrutura dupla: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças… Ame o seu próximo como a si mesmo” (Marcos 12.30-31a).

Esse elemento de administração forma parte da fundamentação ética da Palavra. Ele nos coloca em um triângulo ético entre mim, Deus e os outros. Essa ideia é reforçada quando a salvação é anunciada por João Batista. Em Lucas 1.16-17, a missão de João está definida. A passagem diz: “Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor”.

Esse versículo levanta a questão: qual é a aparência de um povo preparado para a salvação? A resposta é – eles estão reconciliados com Deus. Essa reconciliação com Deus leva a uma reconciliação com os outros nas diferentes áreas da vida. A preparação para a salvação tem suas raízes em relacionamentos.

Essa ideia de um povo “preparado para a salvação” é confirmada em outro texto, quando a multidão reage ao chamado de João Batista ao arrependimento. Em Lucas 3.8-14, João os chama a “d[ar] frutos que mostrem o arrependimento”, pois a chegada do Senhor estava próxima. O verbo grego para o termo “dar” é poieō. A reação da multidão vem em três partes.

Primeiro, a multidão pergunta: “O que devemos fazer então?”. O verbo para o termo “fazer” também é poieō. Eles estão perguntando de forma direta como aplicar a exortação dada por João. A resposta de João é: “Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo”. O interessante nessa resposta é que, normalmente, quando pensamos em arrependimento, pensamos na ligação que essa ideia tem com Deus. No entanto, João traduziu esse arrependimento verdadeiro como a maneira como tratamos os outros. Deus não está diretamente presente nessa afirmação, mas o triângulo ético fica claramente visível, assim como em Lucas 1.16-17.

A seguir, um grupo de cobradores de impostos pergunta: “Mestre, o que devemos fazer?”. Mais uma vez, o verbo para “fazer” é poieō. A resposta é: “Não cobrem nada além do que foi estipulado”. Deus tampouco está presente de maneira explícita nessa resposta, mas, mais uma vez, a preocupação está traduzida como a forma como trato os outros em minha carreira, nas questões do dia a dia.

Uma terceira pergunta é feita por alguns soldados: “E nós, o que devemos fazer?”. Mais uma vez, o verbo usado é poieō. A resposta é: “Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário”. Embora Deus não esteja diretamente presente nessa resposta, o ponto é a forma como os outros são tratados em questões políticas e sociais.

O evangelho de Lucas está descrevendo como Deus e seu mensageiro estão preparando o povo para a chegada da salvação, o que envolve fazê-los refletir sobre como devem alinhar-se corretamente em seus relacionamentos com Deus e com os outros. Voltar-se para Deus é voltar a relacionar-se bem com os outros. Os exemplos citados são pais se voltando para seus filhos e os desobedientes se voltando para a sabedoria dos justos. É assim que se parece um povo preparado para a salvação de Deus.

Quando a Grande Comissão nos chama a fazer discípulos, ela está nos pedindo para cultivar aprendizes dos caminhos de Deus. Um discípulo é um aprendiz. Certamente uma das coisas a aprender é a guardar o maior mandamento.

Quando a Grande Comissão nos chama a fazer discípulos, ela está nos pedindo para cultivar aprendizes dos caminhos de Deus.

Pode-se dizer que a salvação reconecta o mandato da criação à Grande Comissão. Além disso, porque recebemos o Espírito de Deus habitando em nós quando respondemos à mensagem da comissão, podemos refletir o maior mandamento. Quando honramos o maior mandamento, honramos a Deus e o imitamos em nossa forma de viver.

A ideia de que a salvação nos chama a ser como Cristo significa algo semelhante. No cerne de como nos envolvemos de maneira cultural e inteligente está como refletimos a imagem de Deus, honrando-o. O foco da salvação é mais do que a cruz. É também uma nova vida reconectada com Deus, reassumindo a mordomia à qual ele chamou todas as pessoas. É a esse lugar que o evangelho nos conduz.

Para que é a salvação?

Talvez o texto mais famoso sobre a salvação nas cartas de Paulo seja Efésios 2.8-9. Muitos cristãos sabem citá-lo de cor: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie”.

Nós não conquistamos a salvação com nossas obras. A salvação é um presente da graça, e ela tem um propósito. Infelizmente, muitas vezes paramos neste ponto e não continuamos a ler a explicação desses versículos. A explicação começa com a palavra “porque” em Efésios 2.10. Veja o versículo completo: “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”. Esse é o porquê de termos sido salvos. As boas obras não nos salvam; elas são o que agora fomos capacitados para fazer como resultado da nossa salvação.

Vamos fazer a pergunta: “Por que Deus perdoa nossos pecados?” e pensar como um judeu da Antiguidade por um minuto. Há uma lógica clara no que Paulo está dizendo. No Antigo Testamento, uma pessoa impura não poderia entrar no templo para adorar a Deus. Então ele ou ela faria um sacrifício ou uma cerimônia para se purificar, e, através disso, a pessoa estaria então livre para entrar no templo e adorar. A imagem da salvação é semelhante. Estamos impuros perante Deus por causa do pecado. Uma vez que o pecado tenha sido perdoado, somos purificados, como representado através do batismo. Agora que nos tornamos vasos limpos, o Espírito Santo pode habitar em nós e nos capacitar para andarmos com Deus.

O perdão dos pecados na salvação abre caminho para que o Espírito de Deus habite em nós e nos dê vida. Com essa nova vida vem uma capacitação para fazer as obras às quais Deus nos chamou quando nos criou. É para isso que serve a salvação, e Efésios 2.10 diz exatamente isso, assim como o enredo teológico de Romanos 1–8. Não é por acaso que o versículo central de Romanos (1.16) diga: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego”.

O perdão dos pecados na salvação abre caminho para que o Espírito de Deus habite em nós e nos dê vida.

Paulo era entusiasmado com o evangelho porque ele fala da capacitação de Deus, um poder que nos permite andar por caminhos que agradam a Deus, ao cuidarmos juntos de sua criação e servirmos àqueles que ele criou. O que éramos incapazes de fazer em Romanos 1–3, somos capazes de fazer ao chegar em Romanos 6–8, graças à justificação de Cristo, que leva à santificação. Romanos 6.4 coloca isso da seguinte forma: “Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova”.

Por causa do perdão, não estamos mais presos ao pecado. Tendo sido perdoados, podemos viver uma nova vida, porque o Espírito de Deus está agora operando em nós. Nos tornamos um vaso limpo.

Um versículo que consideramos anteriormente – 2Coríntios 5.17 – diz que se alguém está em Cristo, ele ou ela é uma nova criação. Em João 3, Jesus se refere a isso como “nascer de novo” ou “nascer… do Espírito”. A salvação nos leva de volta ao início e ao mandato da criação. Ela também nos leva para o futuro, com uma nova capacidade de agradar a Deus através do nosso envolvimento com as pessoas ao nosso redor.

Efésios 2 faz uma última coisa que nos leva à esfera pública. Os versículos 11-22 enfatizam qual é a primeira boa obra: a reconciliação de judeus e gentios. A primeira boa obra da salvação coletiva é formar a igreja, uma comunidade diversificada composta por aqueles que compartilham desse perdão. Em sua essência, a igreja é um exemplo de reconciliação. Essa reconciliação é entre pessoas de contextos e origens diferentes. O corpo de Cristo é uma imagem da criação sendo restaurada. Em seu próprio design, a igreja testemunha dessa obra da reconciliação coletiva.

O propósito da salvação e o imperativo do amor e do envolvimento

A história da salvação em Efésios 2 não termina com a salvação pessoal, privada. A igreja está em uma missão pela reconciliação. A salvação traz a realidade e a esperança da reconciliação entre aqueles que costumavam ser inimigos. Efésios 2.11-22 explica como os gentios, que não conheciam a Deus e estavam distantes, são agora parte do povo e do templo de Deus, santificados pelo que Cristo fez. Os judeus também foram trazidos para perto de Deus através de Cristo. Ambos, juntos, agora têm acesso a Deus.

O corpo de Cristo é uma imagem da criação sendo restaurada. Em seu próprio design, a igreja testemunha dessa obra da reconciliação coletiva.

Os versículos 17-18 colocam isso desta forma: “Ele [Jesus] veio e anunciou paz a vocês que estavam longe e paz aos que estavam perto, pois por meio dele tanto nós como vocês temos acesso ao Pai, por um só Espírito”. Na igreja, devemos mostrar como Deus restaurou as pessoas. Ao fazer isso, mostramos por que as pessoas foram criadas originalmente: para administrar bem o mundo, tendo um bom relacionamento umas com as outras. Apesar das diferenças étnicas e sociais prévias entre esses grupos, o que Jesus fez torna esse testemunho possível.

Isto, em parte, é o propósito da salvação: unir-nos no Espírito para que possamos trabalhar juntos e então administrar bem nosso mundo e seus relacionamentos. O evangelho é chave nisso tudo, mas esse evangelho precisa nos tornar modelos do que Deus procura, especialmente quanto a como a comunidade de Deus vive como um povo unido perante Deus e no mundo (João 17).

O chamado, como Gálatas 6.10 diz, é para fazermos o bem a todos, especialmente aos da família da fé.

Inteligência Cultural

por Darrell L. Bock

Um guia para engajar-se na atual cultura em transformação de forma a edificar a igreja e a buscar apaixonadamente os perdidos.

Resumo e três palavras-chave sobre salvação e envolvimento

Em nossa pesquisa sobre inteligência cultural, vimos três palavras-chave sobre a salvação.

Em primeiro lugar, 1Pedro 3 nos dá a palavra esperança. A defesa verbal que fazemos e a maneira como vivemos apontam para a esperança que temos em Cristo. Essa esperança está em um relacionamento restaurado com Deus que nunca acaba. Esse relacionamento restaurado honra a Deus, porque está enraizado em sua misericórdia e graça. O perdão dos pecados abre caminho para esse relacionamento restaurado e para nossa nova capacidade de viver de uma maneira diferente.

Em segundo, Lucas 1 e 3, 2Coríntios 5 e Efésios 2 nos mostram que o resultado dessa obra e da mensagem do nosso ministério é a reconciliação, uma reconciliação com Deus e entre as pessoas. Através da Grande Comissão, essa reconciliação nos leva de volta ao mandato da criação, uma ordem que significa que envolvimento e justiça são preocupações esperadas de quem anda com Deus.

Por fim, Romanos 1.16 fala sobre o poder/capacitação para alcançar esse alvo da reconciliação. Esse versículo mostra que uma resposta ao evangelho é uma necessidade para se chegar lá. Ele também mostra que as boas obras que a igreja faz se estendem a todas as esferas. O envolvimento inteligente demonstra o que é possível e serve como modelo do que Deus torna possível. Ele atrai as pessoas a essa incrível esperança da reconciliação em Cristo.

Quando feito de maneira inteligente, nosso engajamento importa, bem como nosso tom. Ambas as coisas refletem um tipo diferente de amor, que reflete a forma como Cristo amou. Também apontam para o tema e a prioridade do evangelho: atrair as pessoas de volta para Deus e umas para as outras. Esse é o nosso chamado ao envolvimento com pessoas em um mundo turbulento.

Nosso chamado às boas obras envolve reconciliação. Ele envolve o maior mandamento de amar a Deus completamente, e ao nosso próximo também. Ninguém fica de fora. Esse amor precisa se estender inclusive aos nossos inimigos. O envolvimento com mansidão e gentileza precisa acontecer o tempo todo.

A boa obra que fazemos é uma obra diferente – ela não é igual ao envolvimento do mundo. Essa diferença é testemunha do poder e da credibilidade do evangelho.

Junte tudo isso e você tem uma inteligência cultural que testemunha da presença de Deus em nossas vidas e da obra do evangelho. Através dessa capacitação, nós podemos ser as pessoas que Deus nos chama a ser em qualquer lugar em que ele nos colocar. Um chamado de salvação precisa ser centrado nessa obra reconciliadora de amor, porque, em parte, esse é o próprio propósito da salvação.

Este artigo foi adaptado de Inteligência Cultural, por Darrell L. Bock.

  • Darrell L. Bock (Ph.D., University of Aberdeen) é o diretor executivo de Engajamento Cultural e professor de pesquisa sênior em Estudos do Novo Testamento do Dallas Theological Seminary. Autor de mais de 40 livros, serviu como presidente da Evangelical Theological Society entre 2000 e 2001. Casado com Sally, é pai de três filhos.

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